Quando nos confundimos com o que fazemos. Muitas vezes começamos a dizer algo como “eu sou meu trabalho”, “sou um estudante”, “sou um atleta”, ou até “sou uma pessoa organizada”. Todos nós fazemos isso em algum momento.
Criamos histórias sobre quem somos com base nas atividades que desempenhamos, buscando um senso de identidade e um lugar no mundo. Antes de mais nada, isso pode parecer uma forma natural de nos definirmos.
Essa é a armadilha da identidade profissional: nos limitamos a nossos papéis e funções, esquecendo que somos muito mais do que isso. Além disso, essa associação estreita entre quem somos e o que fazemos pode nos levar a uma visão reducionista de nossa própria identidade.
Mas o que acontece quando as coisas não saem como esperamos? Por exemplo, o que acontece quando a base em que construímos nossa identidade se desmorona?
A construção da identidade através das ações
A identidade é uma construção complexa. A princípio, começamos a associar quem somos ao que fazemos no dia a dia. Esse processo pode ser um reflexo das nossas escolhas e dos papéis que desempenhamos, seja no trabalho, nos estudos ou na família.
Em outras palavras, nossa identidade se constrói através de nossas atividades diárias, e isso é algo com o qual todos podemos nos identificar.
Quando afirmamos algo como “eu sou meu trabalho” ou “sou um bom estudante”, estamos simplesmente afirmando o que essas atividades significam para nós e como elas nos moldam.
Contudo, essa associação constante entre nossa identidade e nossas funções externas pode ser perigosa, pois limita nossa percepção do que realmente somos. Quando o que fazemos é ameaçado ou modificado, podemos nos sentir como se nossa própria essência estivesse em risco. Isso ocorre porque, muitas vezes, confundimos a nossa identidade com o nosso papel.
A crise da identidade após um fracasso ou mudança
Pense em alguém que sempre se viu como um profissional bem-sucedido. Trabalhou duro, construiu uma carreira sólida e, de repente, foi demitido. Ou alguém que se considera uma mãe exemplar e, em um momento de cansaço, perde a paciência e grita com o filho.
Ou ainda aquele estudante dedicado que, após meses de estudo, não passa na prova. O que essas pessoas sentem? Muitas vezes, além da frustração natural da situação, vem um peso ainda maior: a sensação de que falharam como pessoas.
Afinal, se “eu sou meu trabalho”, “minha competência”, “minha paciência” ou “minha inteligência”, então errar ou perder algo significa que eu perdi a mim mesmo.
Essa é uma armadilha muito comum: nos confundirmos com o que fazemos. Quando a nossa identidade está amarrada apenas a uma função ou característica específica, qualquer falha ou mudança externa pode nos desestabilizar emocionalmente. E esse tipo de desconforto pode gerar crises de autoestima e de pertencimento.
O conceito de “self conceitualizado” e seus impactos
Esse comportamento é descrito no campo da psicologia como o “self conceitualizado”. Em termos simples, isso significa que criamos uma história fixa sobre quem somos, baseada nas coisas que fazemos, nas qualidades que acreditamos ter ou nos papéis que desempenhamos.
E, muitas vezes, passamos a acreditar cegamente nessa história, sem nos darmos a liberdade de questioná-la. O problema é que a vida é imprevisível, e mudanças sempre acontecem. Se nossa identidade está rigidamente ligada a algo externo — como nosso trabalho ou um título que nos define —, qualquer transformação pode nos deixar perdidos e desorientados.
Desapegando-se da identidade fixa e se abrindo para novas possibilidades
Mas e se, em vez de nos reduzirmos às nossas atividades ou características, nos víssemos como algo maior? Como alguém que tem um trabalho, mas não é definido por ele? Alguém que valoriza a dedicação, mas que pode falhar e continuar sendo digno de respeito e amor?
Ao nos desapegarmos dessas definições rígidas, podemos nos dar permissão para viver com mais leveza, permitindo que os altos e baixos da vida não nos façam perder a perspectiva do que realmente somos.
Aceitar que erros fazem parte da jornada, que mudanças são inevitáveis e que nada disso define nosso valor é um passo essencial para encontrar o equilíbrio emocional.
Dessa forma, podemos viver de maneira mais genuína, sabendo que continuamos sendo nós mesmos independentemente das vitórias ou derrotas.
Como se libertar das armadilhas da identidade fixa
Aqui estão algumas maneiras de lidar com essa armadilha da identidade profissional:
- Reflexão contínua: Reserve momentos para refletir sobre quem você é, além do que faz. Busque identificar as qualidades intrínsecas que realmente definem a sua essência.
- Abra-se para o erro: Entenda que o erro não é um reflexo de quem você é, mas uma parte natural do processo de crescimento.
- Cultive a autoaceitação: Aceite-se como uma pessoa em constante evolução, sem a pressão de ter que ser perfeito o tempo todo.
- Exploração de novos interesses: Permita-se explorar novas atividades ou interesses, sem se sentir forçado a se identificar exclusivamente com um único papel.
Benefícios de se desvincular da identidade rígida
Ao desvincular nossa identidade de nossas funções ou características, podemos:
- Viver com mais autenticidade: Ser capaz de explorar diferentes facetas de si mesmo sem a pressão de estar preso a um único papel.
- Reduzir o impacto do fracasso: Enfrentar os desafios da vida com mais resiliência, sabendo que o erro não define quem você é.
- Aumentar a autoestima: Desenvolver um senso mais profundo de autoaceitação e confiança, independentemente do que aconteça externamente.
- Aproveitar as mudanças com mais facilidade: Aceitar que a vida é dinâmica e que as transições fazem parte de nosso crescimento pessoal.
Uma nova perspectiva sobre quem somos
Quando algo não sair como esperado, em vez de se perguntar “o que isso diz sobre quem eu sou?”, tente algo diferente: “o que eu posso aprender com isso?”.
Porque, no fim das contas, você não é representado somente por suas vitórias nem seus erros. Você é muito mais do que qualquer história que já contou sobre si mesmo.
Se você está passando por um momento de autodescoberta ou enfrentando desafios relacionados à sua identidade e autoestima, a Life Saúde Mental pode ajudar.
Nossa equipe está pronta para oferecer apoio e ferramentas para que você se reconecte com o seu verdadeiro eu, superando as dificuldades e abraçando a jornada de crescimento pessoal. Entre em contato conosco para mais informações.
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Estudos Acadêmicos:
- “The Career Identity Trap: How to Break Free and Build a Life That Works” (2023): Você pode encontrá-lo em inglês neste link:
- “Burnout: The Secret to Unlocking the Stress Cycle” (2019)
- “Work Won’t Love You Back: How Devotion to Our Jobs Keeps Us Exploited, Exhausted, and Alone” (2021):
Revistas acadêmicas: