Ansiedade: O que você precisa saber

Você já sentiu seu coração acelerar antes de uma apresentação importante ou ficou inquieto aguardando uma resposta crucial? Esses momentos de tensão são naturais e fazem parte da experiência humana. Em muitas situações, essa resposta natural do nosso corpo pode ser útil para mantermos o foco em algo importante ou nos proteger de algum perigo. No entanto, para algumas pessoas, a ansiedade vai além de uma reação passageira e se torna um estado constante de preocupação e medo, mesmo sem um motivo aparente. Quando a ansiedade é intensa, frequente e interfere na vida diária, pode indicar a presença de um transtorno de ansiedade (APA, 2022; Barlow, 2023).

A ansiedade envolve uma ativação intensa do sistema nervoso, preparando o corpo para reagir a situações percebidas como ameaçadoras. Embora essa resposta tenha sido essencial para a sobrevivência ao longo da evolução humana, em algumas pessoas ela se torna desproporcional ou crônica, causando sintomas como inquietação, tensão muscular, insônia e dificuldade de concentração. Esse estado de alerta constante pode afetar profundamente a saúde mental e física, prejudicando a qualidade de vida (Clark & Beck, 2012; Carvalho et al., 2019). Por isso, entender as diferentes formas de ansiedade, seus sintomas e os caminhos para o tratamento pode nos ajudar a lidar com ela, de forma funcional e promover uma vida com bem-estar e qualidade.

O que é ansiedade?

A ansiedade vai além de um sentimento de preocupação ou nervosismo ocasional. Trata-se de uma reação complexa de antecipação que pode incluir pensamentos intrusivos, sintomas físicos e alterações comportamentais. Em algumas pessoas, esses sintomas que fazem parte da ansiedade podem se manifestar como uma reação temporária a uma situação de estresse, como as que envolvem situações de perigo; em outras, eles podem se transformar em um condição crônica, duradoura, configurando-se um quadro de transtorno de ansiedade (Clark & Beck, 2012; Leahy, 2011), necessitando, portanto, de tratamento.

Uma combinação de fatores genéticos, psicológicos e ambientais estão relacionados à manifestação da ansiedade. Alterações em neurotransmissores como serotonina e dopamina estão diretamente relacionadas à regulação do humor e podem contribuir para o surgimento da ansiedade (Hofmann, 2022). Experiências de ansiedade a eventos estressantes agudos, na infância ou adolescência, quando não tratadas com a devida assistência, podem se cronificar ao longo do tempo e se manifestar como um transtorno ansioso na fase adulta (Clark & Beck, 2012).

Tipos de transtornos de ansiedade

Os transtornos de ansiedade incluem diferentes manifestações, tais como:

  • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): Preocupações persistentes e desproporcionais sobre diversas áreas da vida (Clark & Beck, 2012). Por esse tipo de ansiedade afetar diversas áreas da vida, a TAG acaba sendo um fator de risco para o desenvolvimento de outros transtornos, principalmente a depressão (Barlow, 2023).
  • Transtorno de Pânico: Episódios repentinos de medo intenso (i.e., ataque de pânico), acompanhados por sintomas físicos (ex.: palpitações e sudorese) e cognitivos, como a presença intensificada de pensamentos catastróficos (APA, 2022; Hofmann, 2022).
  • Fobias Específicas: Medo extremo de objetos ou situações específicas, tais como voar de avião, altura, animais etc. (APA, 2022). Diante do medo ou a ansiedade ao objeto ou situação específica, é comum as pessoas apresentarem comportamentos de fuga ou evitação, devido a experiência de um risco desproporcional sentida na ocasião.
  • Transtorno de Ansiedade Social (TAS): Ansiedade persistente na interações sociais, por temor de agir de forma a produzir julgamentos, constrangimento ou humilhação (Barlow, 2023; Hope et al., 2012). Pessoas que apresentam TAS experienciam a ansiedade e medo de situações sociais de maneira mais intensa, incapacitando o seu funcionamento nas atividades diárias; em algumas situações, elas até toleram essas situações sociais ansiogênicas, mas com intenso sofrimento.
  • Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): Pensamentos intrusivos seguidos por comportamentos repetitivos para aliviar a ansiedade (Barlow, 2023; Leahy, 2011). Embora não se enquadrando especificamente como um transtorno de ansiedade, a presença das obsessões (pensamentos intrusivos e repetitivos) produzem intensas respostas de ansiedade, geralmente amenizadas após a execução de comportamentos repetitivos (compulsões). A presença constante de obsessões e compulsões incapacitam as pessoas em suas atividades diárias, além de danos físicos, em algumas situações como escoriações na pele e ferimentos por lavagem excessiva das mãos, por medo de contaminação.     

Como reconhecer os sintomas

Os sintomas de ansiedade podem ser agrupados em três categorias principais:

  • Físicos: Tensão muscular, sudorese, palpitações, fadiga e dores de cabeça (Hofmann, 2022; Leahy, 2011).
  • Cognitivos: Dificuldade de concentração, pensamentos catastróficos e sensação constante de estar no limite (Clark & Beck, 2012).
  • Comportamentais: Evitação de situações ou atividades temidas, inquietação e comportamentos de segurança (Barlow, 2023).

Como tratar a ansiedade?

O tratamento da ansiedade envolve uma abordagem abrangente, que pode incluir:

  1. Psicoterapia: As Terapias Comportamentais (e.x.: Terapia Cognitivo-Comportamental – TCC, Terapias comportamentais contextuais) são amplamente reconhecidas como mais eficazes no tratamento da ansiedade, ajudando os pacientes a identificar situações e pensamentos disfuncionais e a desenvolver comportamentos funcionais que amenizam os sintomas e melhoram a qualidade de vida (Clark & Beck, 2012; Hope et al., 2012).
  2. Medicação: Antidepressivos e ansiolíticos podem ser usados para controlar os sintomas, especialmente em casos graves (APA, 2022). Neste caso, a busca por uma avaliação psiquiátrica é imprescindível para um conduta medicamentosa eficaz.
  3. Estilo de vida: Exercícios regulares, práticas de mindfulness, dieta equilibrada e sono adequado bem como práticas cotidianas que tragam bem-estar são intervenções complementares importantes (Carvalho et al., 2019; Hofmann, 2022).
  4. Psicoeducação: Compreender como a ansiedade funciona pode ajudar a reduzir o estigma e melhorar a gestão dos sintomas e a adesão ao tratamento indicado pela equipe de saúde (Carvalho et al., 2019).

Quando buscar ajuda

Se a ansiedade está afetando sua vida pessoal, profissional ou social, é essencial procurar um profissional de saúde mental. Intervenções precoces aumentam significativamente as chances de recuperação e melhoria na qualidade de vida (Barlow, 2023; Leahy, 2011).

Referências

American Psychiatric Association (APA). (2022). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed., text rev.). American Psychiatric Publishing.

https://doi.org/10.1176/appi.books.9780890425787

Barlow, D. H. (2023). Manual clínico dos transtornos psicológicos: Tratamento passo a passo (6ª ed.). Artmed.

Clark, D. A., & Beck, A. T. (2012). Terapia cognitiva para os transtornos de ansiedade. Artmed.

Hofmann, S. G. (2022). Lidando com a ansiedade: Estratégias de TCC e mindfulness para superar o medo e a preocupação. Artmed.

Hope, D. A., Heimberg, R. G., & Turk, C. L. (2012). Terapia cognitivo-comportamental para ansiedade social: Guia do terapeuta. Artmed.

Leahy, R. L. (2011). Livre de ansiedade. Artmed.

Carvalho, M. R., Malagris, L. E. N., & Rangé, B. P. (2019). Psicoeducação em terapia cognitivo-comportamental. Sinopsys Editora